Alinhando expectativa e realidade no tratamento psiquiátrico: tratamento e recuperação em saúde mental não são lineares
- cassandrasiqueira
- 4 de fev. de 2024
- 2 min de leitura

Não sei se te contaram, mas o tratamento psiquiátrico e a recuperação “da” e “na” doença mental são processos fluidos e podem ser demorados. Também não sei se te contaram, mas o caminho e a experiência de recuperação não são os mesmos para duas pessoas diferentes.
Aqui algumas caracterizações otimistas mas não ingênuas sobre o tratamento e a recuperação em saúde mental:
Tratamento é o que os profissionais de saúde fazem para facilitar a recuperação da pessoa.
Tratamento de transtornos mentais tem objetivos como regredir sintomas, disfunções e sofrimentos experimentados pela pessoa através de estratégias que deveriam integrar técnicas baseadas em evidências e valores e preferências desta pessoa que busca ajuda.
Tratamentos específicos, para necessidades específicas de pessoas específicas, precisam ser personalizados/ individualizados e podem incluir programas de cuidados médicos e psicossociais, como psicoterapias, medicações e mudanças de contextos na vida.
Tratamentos podem ter altos e baixos, fases de maior estabilidade e fases mais difíceis. Pode haver períodos de agudização da doença e dos sofrimentos por diversos motivos, fases de incertezas, em que a pessoa pode parecer não estar melhorando e precisar de mais assistência.
Recuperação é um processo único, profundamente pessoal, envolve muito mais que melhorar de sintomas. É recuperar a experiência de ação sobre sua própria vida, em seus muitos possíveis papeis na vida. É redefinir, em meio aos fluxos e movimentos da vida, quem se é e o que se pode fazer.
Ou seja, autonomia tem papel central para recuperação.
Entender a fluidez destes processos não significa ser negativo, pois um bocado de fatores que influenciam as questões de saúde mental podem ser modificáveis e também, ao contrário, sem esperança o tratamento e a recuperação não são possíveis.
Tratamento e recuperação exigem crença no potencial de mudança e de que uma vida melhor é possível e atingível.
Crença na crise como oportunidade do novo e entendimento de que são processos únicos, não lineares e sem receita padrão válida para todos.
Cassandra Siqueira, psiquiatra.
CRM PR 28567 / RQE 24096
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